Na beira de um riacho
observando o fluir das águas e o voar das borboletas num exuberante colorido. Um
insight como uma noite escura, como um
caminho sem saída, como tudo que se acaba sem ao menos ter começado. O insondável
e o inesperado olhar que somente quer olhar, admirar o admirável e alçar voo
até os confins da imaginação.
Tudo ao mesmo tempo vai se arranjando e se
conectando. Em algum momento algo me apreende e me faz ver além dos olhares,
além da própria imaginação. O imaterial, o subjetivo e a concretude do
inatingível. O mundo visto com um único olhar, o olhar que me olha. A alma me
olha e me observa de longe e cada vez mais me aproxima do invisível, do
imensurável e do indizível.
O inesperado que se faz a todo o momento, um
espanto, um instante que passou pelo tempo e se desfez em palavra. Mas a
palavra sempre se refaz. Envolve, se desenvolve e tudo muda tudo
se transforma. O pêndulo do tempo e o tempo para dizer, por favor, me dêem um
tempo. Um caminho longo e cansativo, preciso caminhar devagar. Será que alguém
me espera? Eu sei que as palavras me esperam, mesmo eu devagar e elas voando.
Vou brincar de escrever. Não
quero escrever sobre a realidade. Por isso quero brincar com as palavras. Andar
de mãos dadas com as palavras, qualquer palavra. É noite, é dia. Chove ou faz
sol. Palavras, frases que tenham sentidos ou não. Não importa, apenas quero
brincar com as palavras.
A vida é uma palavra. Qual é
o sentido da vida? Não sei, vamos brincar? Brincar com a vida. Como brincar com
a vida? A vida é solitária e pode se solidária, ela é apenas uma palavra. A
palavra é o silêncio e no silêncio da palavra a vida se fez. Fez o silêncio e a
vida passou por um instante.
Era o silêncio, era a vida e
o silêncio se fez em versos e a vida se fez em poesia. Eu só quero brincar de
escrever. E as palavras imaginam o mundo brincando no paraíso entre anjos e
arcanjos. E de repente o silêncio declama um verso numa lúdica brincadeira de
ser poeta. Era o poeta Alcides de Souza declamando seu verso: “O som do
silêncio me rodeava e com mais nada me importava”.
E assim seguiu a sublime
melodia daqueles versos. Era somente uma brincadeira, eu e as palavras no reino
do faz de conta. E tudo ali se misturava: silêncio e palavras, poesias e poetas,
vidas em sua mais sublime exuberância. Quero brincar com as palavras, queria
brincar com as palavras, mas perdi o controle. Escondi-me de mim e me perdi.
Passaram vários momentos e
eu fingi ser eu em outros instantes. Chegou à noite e amanheceram outras manhãs
e eu brincando de escrever, tentando ser o que eu era. Desfez a noite sob
distantes olhares entre palavras semeadas nos jardins da imaginação. As
palavras e o sorriso de criança, sorrindo da vida na plena inocência. Isso é
apenas uma brincadeira, uma noite que quer a lua só para si. Brincadeira de
fazer chover e pedir para o sol aquecer a terra molhada.
A palavra quer ser vida,
quer ter vida e quer caminhar entre tudo o que há. Mesmo sendo uma grande
brincadeira, uma aventura por entre vales e montanhas, cavalgando por campinas
verdejante ou voando além do infinito sob as asas da imaginação. Mas essa noite está um pouco escura e as
estrelas estão ausentes. O coração do mundo está sangrando, é tanto ódio que as
dores são dilacerantes.
Quero apenas escrever, mas
às vezes as palavras saem do controle e adentra por caminhos desconhecidos. Eu
quero escrever, mas as dores das palavras sutilmente acabam me ferindo. Ao
amanhecer de um dia qualquer contemplando tudo que ainda está por vir. Eu
queria apenas escrever, mas Inesperadamente o sentimento se fez infinito e
trouxe-me para junto de mim a vida simples e complexa ao sabor de um cálice de
silêncio.